
Depoimento de uma ex-Testemunha de Jeová
Meu nome é Welber Mascarenhas Dias, nasci e cresci dentro de um lar de Testemunhas de Jeová. Pai, mãe, avós, tios, primos. Uma grande e exemplar "família cristã". Quando se nasce nessas condições, você não tem muita escolha. Livre-arbítrio acaba virando piada e ilusão. É verdade que é a própria pessoa quem decide se batizar (momento em que você se oficializa como Testemunha de Jeová), porém batizar-se é tudo que se espera de um jovem que "nasceu na verdade". Sim, você acaba sendo coagido. Você tem o direito de escolha, mas todos os "irmãos" esperam que você escolha o batismo, toda a sua família espera que você faça isso. É o que todos os outros jovens de lá de dentro fazem, e se você não é batizado, você é o patinho feio. As pessoas te olham como se houvesse algo errado com você. Rola uma discriminação interna, e que fica pior a medida que você cresce.
Bem, por vários anos eu fui o patinho feio. Até acreditava que tudo que as Testemunha de Jeová ensinavam era verdade absoluta. Mas eu simplesmente não me encaixava. Então adiei o tanto quanto pude o batismo. E as pessoas começaram a reparar. Começaram a falar mal. Meu pai foi ameaçado de ser destituído do cargo de ancião (um equivalente aos pastores das igrejas evangélicas). Eu não queria me batizar pois sabia que Jeová Deus não ia me aceitar. Por que? Porque aprendi que Deus não gosta de homossexuais. E sim, eu sou gay. Adiei esse batismo o tanto quanto pude.
Entretanto, em 2009 eu me senti tocado por Jeová Deus. Acreditei que eu poderia suprimir qualquer "tendência errada", e resolvi finalmente tentar. No dia 21 de novembro de 2009, fui batizado no Salão de Assembleias das Testemunhas de Jeová de Goiânia, Goiás. Houve grande regozijo na congregação de Deus neste dia, afinal eu estava fazendo a única escolha certa. Por dois anos, consegui cumprir bem meu papel como Testemunha de Jeová. Mas aquele não era eu. Aquele era quem eu tinha que ser. Tudo que eu realmente gostaria de fazer era errado e me era proibido.
A medida que o tempo foi passando, eu conseguia esconder meu jeito alegre e espontâneo cada vez menos. Eu atraía muita gente de espírito jovem. Mas os mais fanáticos queriam distância de mim, pois eu representava um perigo para a espiritualidade deles. Eu descobri que eu nunca deixara de ser aquele patinho feio. Com o tempo, acabei me envolvendo em um proceder pecaminoso com outro irmão da congregação. Nós dois fomos punidos, com uma repreensão. Uma repreensão é quando você é impedido de executar seus "privilégios" como Testemunha de Jeová. Para isso, precisei passar por uma Comissão Judicativa, formada por três anciãos, onde eu tive que confessar meus pecados em detalhes. Me senti envergonhado. Enquanto eu esperava do lado de fora do Salão do Reino a decisão, eu chorei muito, me senti indigno perante Deus, humilhado. Quando me chamaram e deram o veredicto, de que não iam me desassociar (expulsar), apenas me repreender, fiquei muito feliz! Afinal eu não queria ser expulso. Ser expulso significaria uma humilhação pública, onde todos os meus amigos e familiares virariam as costas pra mim até que eu voltasse.
Mais uma vez, tentei harmonizar minha vida com a maneira que as Testemunhas de Jeová ensinam a Bíblia. Eu estava disposto a tentar de novo, e a suprimir de uma vez por todas o verdadeiro eu. Mas o que aconteceu a seguir? Aconteceu que o assunto tradado na minha comissão começou a se espalhar dentro da congregação, e bem rápido. Poucos meses depois da minha repreensão as pessoas comentavam sobre o meu caso pelas minhas costas. Amigos começaram a me excluir do Facebook, e eu sofria muito com essa rejeição, que aconteceu bem antes de eu deixar de ser Testemunha de Jeová. Tudo que eu sempre quis enquanto estive lá dentro, foi ser aceito. Então comecei a reparar que os membros dessa instituição religiosa não são assim tão amorosos, que quando você segue a risca o padrão, está tudo bem, e eles te abraçam. Mas se você não consegue se adequar, eles vomitam a Bíblia em você, te rejeitam, fazem circular boatos sobre você, e te excluem. Isso tudo me levou a um quadro de depressão. Três tentativas de suicídio. Várias brigas em casa. E muito, muito tempo perdido.
Com acompanhamento psicológico, comecei a melhorar. Descobri que fora da Organização de Jeová existem sim pessoas que sabem amar, e pessoas boas. Comecei a pesquisar mais profundamente a Bíblia, e descobri que as Testemunhas de Jeová não são as donas da verdade. Encontrei várias incongruências nos ensinos das mesmas. Além disso, com uma pesquisa mais pormenorizada, percebi que é irracional viver no século XXI baseando toda a sua vida em um livro escrito para uma sociedade que viveu há cerca de 2.000 anos atrás. A partir do momento que a Bíblia passou a ser um livro de histórias (algumas fantasiosas), passei a achar ainda mais ridículo o modo de vida ao qual eu estava tentando tanto me adequar.
Mas afinal, o que é realmente ser uma Testemunha de Jeová. Bem, na verdade trata-se mais de uma lista de proibições absurdas. Vou citar algumas:
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Proibido comemorar aniversários.
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Proibido celebrar o natal, ano novo, carnaval, dia das bruxas, festas juninas, páscoa, ou qualquer outra celebração.
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Proibido ter amizade com pessoas que não são Testemunhas de Jeová.
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Proibido namorar com pessoas que não são Testemunhas de Jeová.
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Proibido ter relações sexuais antes do casamento.
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Proibido participar de competições.
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Proibido ir a festas que tenham muitas horas de duração.
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Proibido ir a shows.
E o que é fortemente desencorajado?
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Fazer um curso superior, pois este mundo está perto do fim e não é hora pra isso.
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Buscar ter uma carreira de sucesso, pois este mundo está perto do fim e não é hora pra isso.
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Ter filhos, pois este mundo está perto do fim e não é hora pra isso.
E quanto ao que é fortemente INCENTIVADO?
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Pregar de casa em casa, avisando as pessoas que a religião delas está errada e que o mundo está acabando.
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Ler a Bíblia todos os dias. Quando lê-la de capa a capa, começar de novo.
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Gastar horas estudando as publicações das Testemunhas de Jeová.
Se você faz tudo isso, parabéns! Você é o que é considerado uma genuína Testemunha de Jeová. Você nem sequer vai pensar em buscar os prazeres do mundo, e Deus estará sorrindo pra você de orelha a orelha. E sabe porque não buscará os prazeres do mundo? Porque não vai sobrar tempo! Eu sei que essa decisão minha me coloca em uma posição bastante desfavorável aos olhos da minha família. Veja o vídeo abaixo e você entenderá do que estou falando.
Como faz para se desligar da religião Testemunhas de Jeová?
Só existem três formas: (1) Ser expulso por estar fazendo algo que fora proibido, e não haver arrependimento. (2) Pedir para ser formalmente desligado, mediante uma carta enviada aos anciãos da congregação que você frequenta. (3) Anulando o batismo. Essa última é praticamente impossível, pois a pessoa se batiza de "livre e espontânea vontade". Nunca fiquei sabendo de nenhum caso.
Para quem quiser ler, abaixo está a cópia digital da minha carta de dissociação (desligamento), na íntegra. Uma cópia idêntica da seguinte carta foi impressa e entregue na congregação a qual eu pertencia:
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Carta de Dissociação de Welber Mascarenhas Dias
Goiânia – GO, 06 de novembro de 2014
À Congregação Vale do Araguaia de Goiânia
Prezados membros do corpo de anciãos;
Sirvo-me desta carta para solicitar formalmente o meu desligamento da religião Testemunhas de Jeová.
Por muitos anos estive em meio a pessoas que acreditam serem os únicos escolhidos pelo Altíssimo como povo de Deus, e digo-vos em toda a verdade, que pensava eu da mesma forma. Entretanto, há cerca de três anos comecei a me afastar do convívio desta religião, e durante esse tempo eu me permiti a dúvida e questionamentos (algo que nos é terminantemente proibido). Ao passo que eu “olhava as coisas de longe com os olhos da razão”, pude perceber uma série de equívocos, falácias, e especulações que as Testemunhas de Jeová como organização vêm cometendo. Das conclusões que obtive, abaixo aludo:
A “PROFECIA” DE 1914
Como toda Testemunha de Jeová bem sabe (ou deveria saber), o capítulo 4 da profecia de Daniel refere-se aos 7 tempos em que o Rei Nabucodonosor de Babilônia passaria exilado de seu reino. Tal profecia bíblica teria entretanto um significado maior, onde aplica-se aos “7 tempos” em que o Reino de Deus seria pisado. Sabe-se também que esses 7 tempos referem-se a 2.520 anos literais – entendimento obtido pela aplicação da regra “um dia por um ano” de Números 14:34, chegando a 7 anos, e da aplicação de que cada ano seria na verdade um ano profético, de 360 anos cada, chegando assim aos 2.520 anos.
Pois bem, tendo o ano de 607 a.C. como data da destruição de Jerusalém (anterior símbolo do Reino de Deus na terra), inicia-se a contagem da supracitada profecia, chegando a 1914 d.C., altura em que findaram-se “O Tempo Designado das Nações, e Jesus Cristo teria sido entronizado como o Rei Celestial de Deus. Atualmente, tem-se dito que essa data marca o início do “Fim dos tempos”.
Porém, o registro histórico contraria esse entendimento, uma vez que inúmeras fontes evidenciam que Jerusalém foi destruída pelos babilônicos em 587 a.C., e não em 607 a.C. *. Ora, se a data de início da contagem está errada, obviamente todas as especulações já feitas a respeito do ano de 1914 também estão.
É interessante ressaltar que todas as datas já obtidas para os eventos bíblicos narrados são importadas da arqueologia, já que a Bíblia em si não fornece nenhuma data específica. Em vista desse fato – a Bíblia não fornecer datas – e da conhecida máxima de 2ª Timóteo 3:16,17 – “Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa.... a fim de que o homem de Deus seja plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra” – entendo que essa preocupação com datas não é importante para a prática do VERDADEIRO cristianismo.
ESPECULAÇÕES SOBRE O FIM DO MUNDO
Já por vários anos tenho ouvido que o “fim está próximo”, de modo que a manutenção do senso de urgência dos membros de todas as congregações das Testemunhas de Jeová ao redor do globo é uma das principais preocupações do Corpo Governante (Colegiado de homens que exercem o papel de líderes supremos, portadores da responsabilidade de promover, coordenar e liderar a obra das Testemunhas de Jeová em dezenas de milhares de congregações). Todavia, várias foram as vezes na cronologia desta religião em que o fim do mundo foi anunciado. A título de exemplo, elucido alguns:
1914
Em 1876, Charles T. Russell escreveu o primeiro de muitos artigos em que apontava para 1914 como o ano do fim dos tempos dos gentios mencionados por Jesus Cristo. (Lucas 21:24). No seu número de 15 de outubro de 1913, A Sentinela (em inglês) declarou:
"Segundo o melhor cálculo cronológico de que somos capazes, é aproximadamente nessa época — em outubro de 1914, ou então mais tarde. Sem dogmatizar, estamos aguardando certos eventos: (1) O fim dos Tempos dos Gentios — a supremacia gentia no mundo — e (2) o início do Reino do Messias no mundo."
Com a aproximação de 1914, cresciam as expectativas. No The Bible Students Monthly (Volume VI, nº 1, publicado no início de 1914), Russell escreveu:
"Se temos a correta data e cronologia, os Tempos dos Gentios findarão este ano — 1914. O que significa isso? Não sabemos com certeza. A nossa expectativa é de que o domínio ativo do Messias começará por volta do fim da concessão de poder aos gentios. A nossa expectativa é que ocorrerão maravilhosas manifestações dos julgamentos divinos contra toda a injustiça, e que isto significará o colapso de muitas instituições atuais, se não de todas."
1925
O discurso Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, proferido por J. F. Rutherford em 21 de março de 1920 no Hippodrome, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos da América, dirigiu atenção ao ano de 1925. Num folheto publicado naquele mesmo ano, foi dito que, se 70 plenos jubileus fossem calculados a partir da data em que Israel, segundo se entendia, entrou na Terra Prometida, isso poderia apontar para o ano de 1925.
À base do que se escreveu ali, muitos esperavam que os que possuíam esperança celestial recebessem a sua recompensa no Céu em 1925. Esse ano também foi relacionado com a expectativa de ressurreição de fiéis servos de Deus pré-cristãos, para que servissem na Terra como príncipes representantes do Reino celestial. Se isso realmente ocorresse, isso significaria que a humanidade entraria numa era em que a morte deixaria de dominar e milhões que então viviam podiam ter a esperança de nunca desaparecer da Terra. Embora equivocada, os Estudantes da Bíblia, como eram então conhecidas as Testemunhas de Jeová, partilharam ansiosamente essa esperança com outros, chegando até ao ponto de construírem locais para receber os ressuscitados (ver Beth-Sarim). Os cálculos de tempo e as expectativas criadas causaram sérios desapontamentos (Provérbios 13:12).
1975
O livro Vida Eterna — na Liberdade dos Filhos de Deus, lançado (em inglês) numa série de Congressos de Distrito em 1966, apontava para 1975 como a época em que se perfazia seis milênios desde a criação de Adão. Ainda no local, quando os congressistas examinaram o conteúdo, o novo livro suscitou muitos comentários sobre 1975. No congresso realizado em Baltimore, Maryland, Estados Unidos da América, o discurso concludente foi proferido por F. W. Franz. Ele começou por dizer:
"Pouco antes de subir à tribuna, um jovem aproximou-se de mim e disse: 'Diga-me, que significa esse 1975?'" Franz mencionou muitas perguntas feitas sobre se a matéria no novo livro quereria dizer que em 1975 o Armagedom ocorreria. Ele acrescentou, em síntese: "Pode ser. Mas não estamos dizendo isso. Todas as coisas são possíveis a Deus. Mas não estamos dizendo isso. E que ninguém seja específico ao falar sobre o que irá acontecer a partir de agora até 1975. Mas, prezados irmãos, a grande questão é: o tempo é curto. O tempo está se esgotando, não resta dúvida sobre isso."
Nos anos que se seguiram a 1966, muitas Testemunhas de Jeová começaram a criar vivas expectativas que, evidentemente, não se cumpriram. O livro Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus, publicado pela Sociedade Torre de Vigia, em 1993, na página 633, após mencionar as expectativas referentes a 1925 informa:
"De novo, em 1975, houve desapontamento quando as expectativas sobre o início do Milênio não se concretizaram. Em resultado, alguns se afastaram da organização. Outros, porque tentaram subverter a fé de associados, foram desassociados. Sem dúvida, o desapontamento com relação à data era um fator, mas, em alguns casos, as raízes eram mais profundas."
Referente ao que se falou sobre 1975, o livro admitiu, na página 104:
"Outras declarações foram publicadas sobre esse assunto, e algumas foram provavelmente mais taxativas do que seria aconselhável."
Já estamos em 2014, e apesar de terem menor peso do que costumavam ter antigamente, especulações sobre quando virá o fim ainda vêm sendo feitas. Alguns ensinamentos chegaram a ser reajustados com a finalidade de comportar a “Ausência do dito Fim”. Gostaria de trazer-lhes a atenção o seguinte texto: “Acerca daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai” (Marcos 13:32). Quão desconsiderado foi este princípio ao longo do século passado!
OSTRACISMO
O Corpo Governante determina que sejam desassociados (excomungados) todos aqueles dentre as Testemunhas de Jeová que não concordem com todos os ensinos que dele emanam. O principal texto usado para justificar tal medida judicativa é o de 1ª Coríntios 5:11: "Mas, eu vos escrevo agora para que cesseis de ter convivência com qualquer que se chame irmão que for fornicador, ou ganancioso, ou idólatra, ou injuriador, ou beberrão, ou extorsor, nem sequer comendo com tal homem."
Que tipo de pessoa é esta? O próprio versículo 13 deste mesmo capítulo define o praticante de todas estas coisas:
"Removei o homem INÍQUO de entre vós."
Mesmo que o termo "desassociação" não apareça na Bíblia, a ideia e o princípio estão, sem dúvida, presentes por meio da palavra "removei". Mas a quem se aplica este texto? Ao iníquo, isto é, a pessoa que, de modo contumaz, pratica quaisquer das transgressões acima alistadas, ao ponto de ser corretamente chamada de fornicador, idólatra, beberrão, etc. Este é o tipo de pessoa de quem Paulo disse que se deveria "remover" dentre os cristãos. Tal pessoa poderia ser como o "fermento que leveda a massa toda". (Gálatas 5:9) Mesmo em relação a estes, porém, o que quer dizer exatamente este texto?
Se examinar a página 1318 da própria Tradução do Novo Mundo com Referências (1986), observará na nota de rodapé que "cesseis de ter convivência" corresponde à palavra grega mesynanamígnsthai, que significa literalmente "não vos mistureis com". Em A Sentinela de 15 de dezembro de 1981, página 21, parágrafo 23, a Sociedade condena que se dê um simples "Olá" a uma pessoa desassociada. Esta é, no entanto, uma instrução humana, que vai ALÉM do que diz o texto de 1 Coríntios 5:11.
Observe ainda que 1 Coríntios 5:11 não menciona pessoas que, usando a Bíblia, discordem de algum ensino que a mesma, de fato, não traz. Será que este texto incluiria não cumprimentar a pessoa?
Veja o que diz 2ª Tessalonicenses 3: 14, l5:
"Mas, se alguém não for obediente à nossa palavra por intermédio desta carta, tomai nota de tal, parai de associar-vos com ele, para que fique envergonhado. Contudo, não o considereis como inimigo, mas continuai a admoestá-lo como irmão." O contexto indica, e o próprio Corpo Governante reconhece, que aqui não se está falando de pessoas "removidas" dentre os cristãos; essas deveriam ser admoestadas como irmãos. É digno de nota que, tanto em 1ª Coríntios 5:11 como em 2ª Tessalonicenses 3:14, a palavra grega utilizada seja a mesma, mesynanamignsthai! Isto pode ser conferido numa publicação da própria Sociedade, a Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas, páginas 743 e 910 (em inglês). A Sociedade, no entanto, traduziu esta mesma palavra grega de dois modos convenientemente diferentes: em 2ª Coríntios 5:11 é "cesseis de ter convivência com"; em 2ª Tessalonicenses 3:14 é "parai de associar-vos com". Você mesmo pode examinar as páginas 1318 e 1366 (Tradução do Novo Mundo com Referências, 1986), nas notas de rodapé referentes a 1ª Coríntios 5:11 e 2ª Tessalonicenses 3:14. Comparando as duas verá que a tradução literal de ambas é "não vos mistureis com".
Portanto, o que a Bíblia diz é que o tratamento dispensado tanto aos "removidos" (desassociados) por conduta imprópria, como aos "tomados nota" é o de não se misturar com eles, isto é, não ter com eles intimidade, companheirismo, convivência. Consequentemente, o tratamento é o mesmo tanto num caso como no outro. Isso é o que a Bíblia diz, relembrando que 1ª Coríntios 4:6 exorta: "Não vades além das coisas que estão escritas."
Recapitulemos agora como o Corpo Governante orienta que os membros expulsos, ou que deliberadamente escolheram se desligar da instituição religiosa sejam tratados: "Trate os entes queridos desassociados como mortos por Jeová, e não os lamente!”. (A Sentinela de 15 de novembro de 2014 no artigo de estudo intitulado: "Devemos ser santos em toda a nossa conduta").
Aqui, o Corpo Governante claramente ordena que os membros da congregação encarem pessoas queridas que já não fazem parte da sua religião como tendo sido "mortos por Jeová", e ainda afirmam que não devem ser lamentadas, e nem sequer cumprimentadas! Mesmo que sejam parentes achegados (mãe, pai, irmão, avó, avô, tio, tia, etc). Fica claro e sem margem para dúvidas o quão ostracista é esse mandamento, ordenado pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.
DISCURSO HOMOFÓBICO
Desde que a união civil igualitária vem ganhando espaço na sociedade atual, houve um surto de ataques homofóbicos. Discursos disseminados por líderes religiosos em geral, ajudam a espalhar o ódio às pessoas que estão apenas usando o livre-arbítrio delas. Com as Testemunhas de Jeová não é diferente. A doutrina diz que a menos que uma pessoa “suprima suas tendências” ela será rejeitada por Deus. O problema é que crescer ouvindo isso causa vários danos.
Se você for um homossexual que tenta se harmonizar para ser aceito pela família e comunidade religiosa, a chance de ter problemas emocionais é de quase 100%. Existem os casos mais extremos, onde ocorrem até mesmo tentativas de suicídio. Se você não for um homossexual, crescer sendo exposto a esse tipo de discurso muito provavelmente o transformará em alguém homofóbico e intolerante.
O peso negativo que é colocado nessa questão é assustador. Já ouvi relatos reais de membros da congregação dizerem que preferiam “lidar com um filho usuário de drogas, do que com um boiola” (sic). Reconheço que na Bíblia existe um texto onde claramente a homossexualidade seria condenada (1 Coríntios 6:9). No entanto, quais são os maiores mandamentos do Cristianismo? ‘Amar a Deus de todo o coração, e ao próximo como a ti mesmo’ (Mateus 22:37-39). Os discursos e tratamentos dispensados aos homossexuais dentro das congregações das Testemunhas de Jeová estão longe de serem uma expressão de amor.
CONCLUSÃO
Tendo em vista todo o supracitado, venho pedir que eu, Welber Mascarenhas Dias, seja formalmente desligado da religião Testemunhas de Jeová a partir do conhecimento desta carta. Conforme aqui transcorri, usei a própria Bíblia para me contrapor diretamente aos ensinamentos do Corpo Governante, nos assuntos mencionados.
Existem entretanto, diversos outros assuntos com os quais não concordo. Porém, não tenho nenhum interesse em publicar um livro de 300 páginas. Por discordar abertamente de suas ideologias, e estar plenamente convicto de que esta religião não detém o aval divino, não faz mais nenhum sentido que eu permaneça associado à essa Instituição.
Entendo que minha família, em sua maioria esmagadora, aplicará exatamente as linhas contidas nas inúmeras publicações das Testemunhas de Jeová, de execração e ostracismo para com a minha pessoa. E sinceramente, sofro e lamento muito por isso. Sei que serei privado de muitos momentos bons em família, a partir do momento em que meu desligamento for publicamente anunciado, pois sei bem o quão sentenciosos são os membros dessa religião. Porém, entrego essa carta de cabeça erguida, sem nenhuma vergonha, pois por entre essas singelas linhas, escorre a coragem de uma pessoa que, embasada pelas suas fortes convicções, teve o alento de ir contra todo o meio que a cerca. Que Deus esteja comigo. Amém!
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Referências
* I - As Crônicas de Nabonido (Nabonido nº8, Nabonido nº 18, Nabonido H1,B); II - Lista Real de Beroso; III – Cânon de Ptolomeu; IV – Tabuinhas Cuneiformes Comerciais e Administrativas datadas do período Neobabilônico; V – Diários Astronômicos VAT 4956 e BM 32312; VI – Crônica de Aquito; VII – Textos Saros (tabuinhas sobre eclipses lunares durante o período neobabilônico).